“A gente tinha vontade de falar sobre adoção, mas não sabia por onde, porque o programa não é jornalístico e sim de entretenimento, então a gente sempre pensa em como vai ‘entrar’ em determinado assunto. Aí no camarim, antes do programa com ele e com o Jorge Drexler (exibido no dia 13 de abril), eu vi o Milton e o Augusto, eu vi a relação deles e fiquei com aquilo na cabeça. Aí eu falei: ‘Milton, a gente tem que falar sobre adoção’. E ele concordou, ‘sim, sim, eu quero falar’. E daí quando eu tive a ‘deixa’ no programa, quando eu pedi para ele voltar e perguntei sobre o que ele gostaria de falar, ele falou: adoção”, afirmou o apresentador.
E foi esse tema que fez que Milton, figura bissexta nos palcos e nos programas de tevê, voltasse ao ‘Conversa com Bial’ menos de um mês depois de sua última participação e para a edição que será exibida na próxima sexta-feira, 25 de maio, dia nacional da adoção. Sua banda já ensaiava os primeiros acordes quando ‘Bituca’ entrou no palco, sem falar com o auditório, silenciosamente extasiado.
No palco, Milton começou a cantar a clássica ‘Bola de Meia, Bola de Gude’ e logo lembrei que Elis Regina, paixão confessa do cantor, costumava dizer que “se Deus tivesse uma voz, seria a de Milton Nascimento”. Seria.
Foi com essa reverência que Milton foi abraçado pelos atores Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, também convidados para falar sobre adoção no programa: a filha deles, Titi, chegou à vida do casal depois de uma viagem de Giovanna ao Malawi. Os dois se juntam a Milton para declamar trechos da nova música do cantor, ‘Além de Tudo’, que saberemos durante o programa que foi composta para Augusto.
Pergunto a Augusto como é ser filho de Milton Nascimento e ele me diz apenas que é algo que ainda “não digeriu”. Embora eles convivam há mais de dez anos, o documento que o transformou em ‘Augusto Nascimento’ saiu apenas ano passado.
A gravação da entrevista começa e Bituca conta a Pedro Bial que sempre quis ter um filho. “Tentei várias vezes, nunca deu certo, até que finalmente apareceu alguém na minha vida. Eu conheci o Augusto quando ele tinha 13 anos através de uns amigos de Juiz de Fora e a gente ficou amigo. Soube que ele não tinha uma boa relação com o pai biológico e perguntei: ‘você quer ser meu filho?'”. Augusto sorri com a lembrança.
Saúde e vida pessoal
Pergunto como está a saúde de Milton e ele me conta que, ano passado, uma depressão afastou o pai dos palcos e da música, “mas agora está tudo bem”. Desde que os documentos que regularizaram a adoção finalmente saíram, há pouco mais de um ano, o pai está ainda melhor.
“Isso trouxe vida para ele”, conta Augusto, que responde com evasivas quando eu insisto para saber como era a vida antes do pai. Ou como é sua rotina com Milton. Bituca, visivelmente mais expansivo que o costume, sorri no palco ao falar do filho para Bial. “Esse menino é uma maravilha na minha vida”, revela, feliz da vida.
Milton se emociona em diversos momentos, mas fica profundamente tocado quando assiste no telão à mãe, Lília, e o pai, Josino, já falecidos, falarem sobre a adoção e a infância dele em Três Pontas, Minas Gerais, em um depoimento de 1997 resgatado dos arquivos da emissora. “Eu não entendo minha vida sem ele”, diz Dona Lília.
Milton chora e Augusto segura as lágrimas. Pedro Bial pergunta ao filho de Milton se ele “herdou” algo do pai. “Tô aprendendo a ouvir mais e falar menos”, brinca.
* Por Estadão Conteúdo
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