Foto: divulgação charles manson

Charles Manson: a relação do macabro serial killer com a música

Cantor, músico, obcecado pela fama e com o sonho de conquistar Hollywood. Charles Manson circulava com facilidade entre artistas e celebridades na década de 1960.

Quem poderia imaginar que essa é a definição de um dos assassinos em série mais famosos do século 20? Charles Manson sonhou virar rockstar, mas acabou se tornando popular por motivos muito mais aterrorizantes.

Ele liderou a seita A Família Manson, que, em 1969, cometeu uma série de homicídios considerada como um dos crimes mais bárbaros da história recente dos Estados Unidos. Em agosto daquele ano, o grupo matou brutalmente nove pessoas em Los Angeles.

Entre as vítimas, estava a atriz Sharon Tate, então casada com o diretor Roman Polanski e grávida de 8 meses. Os crimes comoveram o mundo e entraram simbolicamente para a história da contracultura da década de 1960 e do movimento hippie – inclusive, colaborando para dar fim ao sonho “paz e amor” que os jovens tinham naquela época.

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Nascido em 1934, Charles Manson teve uma infância bastante problemática: ele morou com os tios e frequentou reformatórios e internatos. Ainda adolescente, chegou a ser preso diversas vezes por roubo. Foi justamente na cadeia que duas de suas principais características apareceram: o talento para persuadir pessoas e a vontade de ser músico profissional.

Após cometer os crimes que o deixou famoso, Manson chegou a lançar dois discos, ‘Lie‘ (1970) e ‘Live at San Quentin‘ (1993). Entretanto, quando ainda estava em liberdade, a carreira artística nunca vingou e, frustrado, ele convenceu jovens do movimento hippie a se juntarem a ele para viver em uma fazenda, isolados da sociedade e obedecendo às suas ordens.

Os assassinatos faziam parte de um macabro plano: jogar a culpa sobre o movimento negro e dar início a uma guerra racial no país. A ideia maluca jamais deu certo e o grupo foi preso alguns meses após os brutais assassinatos. Apesar de não ter estado presente nas cenas de alguns dos crimes, Charles Manson foi condenado à prisão perpétua pela autoria intelectual do massacre.

Depois de viver mais da metade da sua vida em uma penitenciária na Califórnia, onde deu continuidade à sua vida, chegou a ficar noivo e continuou liderando uma legião de fãs em sua seita, Charles Manson morreu no dia 19 de novembro de 2017. De maneiras macabras e sombrias, o assassino vem inspirando a cultura popular com o passar dos anos, incluindo o mundo da música.

Charles Manson na cultura pop

A história de Charles Manson já foi representada em inúmeras obras artísticas, incluindo filmes, séries, livros, entre outros. São tantas representações, que seria praticamente impossível tentar listá-las.

Mais recentemente, Charles Manson e sua Família são personagens centrais no filme ‘Era Uma Vez Em… Hollywood‘, do diretor Quentin Tarantino e que está atualmente em cartaz nos cinemas. “É uma comunidade hippie, bizarra, mas, embora tenha um ar sinistro, mostramos seu dia-a-dia”, conta o cineasta sobre parte da trama.

Com a segunda temporada marcada para estrear em 16 de agosto, a aclamada série ‘Mindhunter‘, da Netflix, também trará Charles Manson como um de seus personagens. Curiosamente, o criminoso foi interpretado pelo ator Damon Herriman em ambas as produções – no filme de Tarantino e no seriado da Netflix.

‘Helter Skelter’ e o fascínio pelos Beatles

Com uma juventude já voltada para o crime, Charles Manson desenvolveu uma certa obsessão pelos Beatles, com destaque especial para o álbum autointitulado, chamado de ‘White Album’ pelos fãs, e as músicas ‘Revolution‘ e ‘Helter Skelter‘. O criminoso acreditava que os músicos da banda eram “cavaleiros do apocalipse” enviados ao planeta para anunciar o fim do mundo por meio de suas canções.

A letra de ‘Helter Skelter’ foi o que conduziu as teorias criadas por ele para manipular a sua seita a cometerem os crimes que os levaram à prisão pelo resto de suas vidas. Para Charles Manson, a música avisava que uma guerra racial apocalíptica, entre negros e brancos, estava para acontecer – e a série de mortes ordenada por ele aceleraria o processo.

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Na parede da casa de Roman Polanski e Sharon Tate, eles escreveram o nome da música com o sangue das vítimas, mas acabaram cometendo um erro de grafia: ‘Healter Skelter’.

Beach Boys e a vítima original

Dennis Wilson, baterista da banda Beach Boys, chegou a ter um relacionamento bastante íntimo com A Família Manson. Um ano antes dos crimes, eles chegaram a viver por vários meses na casa do músico, que gastou cerca de US$ 100 mil com o grupo.

A amizade, no entanto, era de interesse: Charles Manson queria conseguir um canal para um contrato de gravação e, assim, decolar a tão sonhada carreira musical.

Manson deitou e rolou: pedia constantemente por dinheiro, bateu o carro de Dennis Wilson e roubava diversos de seus pertences, incluindo um disco de ouro dos Beach Boys. Mesmo assim, o músico acreditava nos talentos do criminoso e tentou lhe conseguir contratos, incluindo com o produtor Terry Melcher – que não aceitou, pois Manson era mentalmente instável. Acredita-se que as vítimas assassinadas na casa de Roman Polanski foram mero acaso, visto que a propriedade pertencia, anteriormente, ao produtor – e era ele o alvo da seita.

Mais tarde, os Beach Boys lançaram uma música baseada em um material escrito por Charles Manson, porém com outro título e mudanças na letra. A faixa do Beach Boys se chama ‘Never Learn Not To Love‘. O original era ‘Cease To Exist‘.

Axl Rose e Guns N’ Roses

A banda Guns N’ Roses causou polêmica e chegou a regravar uma música composta por Charles Manson: ‘Look At Your Game, Girl‘. A faixa faz parte do disco de covers ‘The Spaguetti Incident?’, lançado em 1993.

Além disso, no início dos anos 1990, auge da fama do grupo, o vocalista Axl Rose costumava vestir uma camiseta que tinha o rosto de Charles Manson estampado e a frase ‘Charlie Don’t Surf’ (‘Charlie Não Surfa’).

Depois de muita polêmica, Axl Rose explicou que não concordava com os atos de Charles Manson, nem o idolatrava. Ele alegou que a gravação da música e o uso da camiseta eram uma espécie de declaração irônica para criticar os Estados Unidos.

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Rose também declarou que todos os ganhos financeiros da música seriam doados para a caridade, mas o tiro saiu pela culatra: a Família Manson processou a banda e venceu, recebendo os direitos pela canção.

O nome de Marilyn Manson

Nascido Brian Hugh Warner em 1969, Marilyn Manson construiu o seu nome artístico como uma espécie de “homenagem” bizarra ao assassino. Ele decidiu juntar os nomes de Marilyn Monroe e Charles Manson, dois “ícones pop” da década de 1960, para representar o que ele considera “o último e mais perturbador dualismo da cultura estadunidense”.

Ciente disso, em 2012, o próprio Charles Manson enviou uma carta aberta assustadora para Marilyn. As frases do bilhete eram desconexas e não faziam muito sentido, mas foi possível inferir que o criminoso estava pedindo ajuda (possivelmente financeira) para sua seita, a ‘ATWA’ – criada por ele em suposta defesa ao meio ambiente.

A carta também aparentava trazer algumas ameaças ao músico, que jamais se pronunciou oficialmente sobre a situação.

Daron Malakian lamentou sua morte

O guitarrista Daron Malakian, da banda System Of A Down, usou as redes sociais para afirmar que ficou triste com o falecimento de Charles Manson, um dia após sua morte, em 2017. Ele considera que seu trabalho foi altamente influenciado pela música e pelos ideais do criminoso.

Na ocasião, ele recebeu inúmeras críticas por parte de seus seguidores devido à publicação. Muitos o acusaram de exaltar um assassino. Claramente ofendido, ele ainda publicou um longo texto defendendo Manson, a quem chamou de “gênio” e sua “inspiração como artista”.

Mais recentemente, em uma entrevista, o músico voltou a tocar no assunto e garantiu que ainda tem o criminoso como ídolo. “As pessoas pensam que eu o apoio por ser um assassino. […] Quando se trata de seus pontos de vista sobre a sociedade e coisas assim, eu de muitas maneiras concordo com ele e, como eu disse, acho interessante”, disse ele ao podcast ‘Talk Is Jericho’.

*O texto não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cifras.

Sou jornalista, mas nas horas vagas gosto de fingir que sou influenciador digital. Me segue no insta! @meunomenaoedolfo