“Uma corrida para o desastre”. Foi assim que Charlotte Golunski, de 36 anos, descreveu os momentos de pânico vividos a bordo do superiate de luxo Bayesian, que naufragou na costa da Sicília, Itália, após ser surpreendido por uma tromba d’água na segunda-feira (19).
Charlotte, que foi resgatada com sua filha de um ano nos braços, reencontrou seu marido em um pronto-socorro de Palermo horas depois.
Em uma entrevista ao ‘Corriere Della Sera’, Charlotte contou como o caos começou quando trovões e ondas violentas a despertaram no meio da noite.
Abraçada à filha, Sophia, e acompanhada pelo marido, James Emsilie, a família decidiu abandonar a cabine e procurar segurança no convés.
“Uma corrida para o desastre porque havia um inferno, e eu e meu marido lutávamos para ficar de pé…”, relatou Charlotte, descrevendo a dificuldade de se manter firme em meio à tempestade.
O superiate, pertencente ao magnata britânico da tecnologia Mike Lynch, estava em uma viagem que partiu de Londres com destino à Sicília, envolvendo colaboradores e amigos próximos.
A rota incluía passagens pelas Ilhas Eólias, Milazzo e Cefalù, antes de seguir para Palermo, onde a tragédia ocorreu devido ao mau tempo.
Durante a travessia, Charlotte chegou a perder sua filha por breves, mas eternos, segundos, enquanto lutava contra as forças da natureza. Em entrevista ao ‘La Repubblica’, ela lembrou o momento de pânico:
“Eu a segurei flutuando com todas as minhas forças, meus braços esticados para cima para evitar que ela se afogasse. Estava tudo escuro. Na água, eu não conseguia manter meus olhos abertos“.
James, marido de Charlotte, também falou sobre o clima de ansiedade que se instalou quando os relâmpagos começaram a iluminar o céu.
O comandante do iate decidiu se aproximar da costa e baixar âncora perto do porto, na esperança de escapar da tempestade. Entretanto, segundo James, o erro pode ter sido não buscar abrigo dentro do porto a tempo.
O comandante chegou a disparar um sinalizador pedindo ajuda, mas, de acordo com James, “já era tarde demais”.
Passageiros desaparecidos do superiate
Entre os desaparecidos estão Jonathan Bloomer, presidente do Conselho de Administração da Morgan Stanley International, e sua esposa. A seguradora britânica Hiscox confirmou a informação na terça-feira (20). Mike Lynch, proprietário do superiate e cofundador da HP Autonomy, também está desaparecido.
Lynch, de 59 anos, tem uma fortuna estimada em US$ 650 milhões e tem sido destaque na mídia devido a um processo judicial relacionado à venda de sua empresa para a HP por US$ 11 bilhões em 2011.
O naufrágio ocorreu nas primeiras horas da manhã, quando a maioria dos passageiros ainda dormia. O iate foi atingido por uma tromba d’água por volta das 5h, e em questão de minutos, o mastro de 75 metros de altura quebrou, fazendo o barco tombar antes de afundar.
Alguns passageiros conseguiram subir ao convés, enquanto outros se viram submersos na água, lutando pela sobrevivência.
Fabio Cefalù, pescador que testemunhou o naufrágio, relatou que viu o sinalizador disparado pelo comandante, mas ao chegar ao local, só encontrou destroços flutuando no mar.
“Não havia homens no mar. Então ligamos imediatamente para o escritório do capitão do porto”, afirmou o pescador.
O naufrágio do Bayesian deixa um rastro de incertezas e busca desesperada por sobreviventes, enquanto a costa da Sicília se torna cenário de uma tragédia inesperada.
Especialistas apontam falhas críticas em naufrágio
O naufrágio do superiate de luxo Bayesian, na costa da Sicília, Itália, levantou preocupações sobre falhas críticas que podem ter contribuído para a tragédia.
Especialistas italianos identificaram três problemas principais: cobertura radar descontínua, forças atmosféricas desorganizadas e um posicionamento inadequado da embarcação durante a tempestade.
De acordo com investigações preliminares, as condições climáticas extremas foram o fator principal para o naufrágio.
Francesco De Martin, especialista em eventos climáticos extremos da Universidade de Bolonha, destacou que a área do acidente possui cobertura radar descontínua, o que pode ter prejudicado a capacidade da tripulação de reagir a tempo.
“O radar é a melhor ferramenta, mas verificamos e a área do acidente tem cobertura radar descontínua”, afirmou De Martin em entrevista ao ‘Corriere Della Sera’. O radar poderia ter antecipado a chegada da tempestade em 10 a 15 minutos, um tempo crítico que talvez não tenha sido suficiente para manobrar o iate em segurança.
Outro ponto destacado pelos especialistas é a desorganização das forças ascendentes e descendentes durante a tempestade, o que afetou drasticamente o equilíbrio do iate.
O mastro de 75 metros de altura sofreu compressões intensas, fazendo com que a embarcação se tornasse instável. Andrea Ratti, professor da Politécnica de Milão, explicou ao ‘Corriere Della Sera’ que o mastro, crucial para a propulsão da vela, também lida com forças laterais que podem tombar o barco.
“O bulbo, uma espécie de contrapeso localizado sob o barco, gera um torque de endireitamento capaz de estabilizá-lo”, detalhou Ratti. No entanto, essas forças descontroladas transformaram o ambiente em um verdadeiro “liquidificador”, agravando a situação.
Estar no lugar errado na hora errada foi outro fator apontado por Salvatore Cocina, gerente geral da Proteção Civil da Região da Sicília.
Rosario Marretta, professora de Dinâmica de Fluidos Computacional da Universidade de Palermo, questionou a proximidade do barco com a costa durante a tempestade, especialmente considerando o agravamento das condições meteorológicas.
“Por que, com um agravamento significativo do boletim meteorológico, o barco estava no meio da noite a uma distância que não era segura da costa?“, indagou Marretta.
A investigação inicial sugere que o iate Bayesian pode ter sido atingido por uma tromba d’água gerada por uma forte instabilidade atmosférica. Este fenômeno ocorre quando uma camada de ar mais frio se sobrepõe a uma camada de ar quente e úmido, criando movimentos verticais que resultam em ventos em forma de vórtice.
As trombas d’água têm uma duração curta, mas seus ventos podem atingir centenas de quilômetros por hora, afetando áreas de poucos metros de diâmetro. Normalmente, essas trombas não chegam à costa, mas quando o fazem, perdem força rapidamente.
Os turistas a bordo do superiate Bayesian estavam dormindo em suas cabines quando a tragédia aconteceu, por volta das 5h da manhã.
O mastro de 75 metros quebrou, e as fortes rajadas de vento tombaram o barco para o lado, culminando no naufrágio. Alguns passageiros conseguiram subir ao convés, enquanto outros se encontraram na água sem saber como sobreviveram.
A combinação de problemas meteorológicos, forças desorganizadas e localização inadequada continua a ser investigada, mas esses fatores já apontam para uma série de falhas críticas que contribuíram para o desastre.
Quem sobreviveu e quem ainda está desaparecido
Uma operação de resgate está em andamento na costa da Sicília, na Itália, após o naufrágio do superiate Bayesian, de bandeira britânica, na manhã de segunda-feira (19). O incidente, causado por condições climáticas adversas, deixou um rastro de vítimas e desaparecidos.
O cozinheiro do navio foi a única vítima fatal confirmada até o momento. Seu corpo foi recuperado pelo departamento de Defesa Civil da Sicília. Além disso, cerca de 15 pessoas foram resgatadas do mar, enquanto seis ainda estão desaparecidas. As buscas foram retomadas na manhã desta terça-feira (20) por mergulhadores especializados do Corpo de Bombeiros italiano.
Entre os desaparecidos, cinco das seis pessoas já foram identificadas. De acordo com o jornal ‘La Repubblica’, os desaparecidos incluem quatro cidadãos britânicos e dois americanos. A bordo do iate, havia principalmente britânicos, além de pessoas da Nova Zelândia, Sri Lanka, Irlanda e cidadãos franco-britânicos, segundo o ‘Il Giornale di Sicilia’.
Mike Lynch, empresário britânico da área de tecnologia, é o dono do iate e está entre os desaparecidos. Lynch, de 59 anos, é conhecido por ser cofundador da empresa de software Autonomy, vendida à Hewlett-Packard por US$ 11 bilhões (cerca de R$ 59 bilhões) em 2011. Ele enfrentava uma batalha judicial há uma década, sendo recentemente absolvido de acusações de fraude nos EUA.
Hannah Lynch, de 18 anos, filha de Mike Lynch, também está desaparecida. Ela havia acabado de ser aceita na Universidade de Oxford após concluir os exames nacionais britânicos, conhecidos como A-levels.
Chris Morvillo, advogado que representou Lynch no julgamento nos EUA, é outra das vítimas desaparecidas. Sócio do escritório de advocacia Clifford Chance, em Nova York, Morvillo tem uma carreira destacada, incluindo sua atuação como procurador adjunto do distrito sul de Nova York.
Jonathan Bloomer, presidente do Morgan Stanley International e da seguradora Hiscox, também está entre os desaparecidos. Bloomer, de 70 anos, é uma figura respeitada no setor financeiro, tendo comparecido ao julgamento de Lynch como testemunha de defesa.
Judy Bloomer, esposa de Jonathan Bloomer, também está entre as vítimas não localizadas. Judy é membro do conselho da instituição beneficente Eve Appeal, que apoia pesquisas sobre câncer ginecológico. Athena Lamnisos, CEO da Eve Appeal, expressou seu choque e tristeza ao saber do desaparecimento de Judy e Jonathan Bloomer.
Sobreviventes do naufrágio do superiate
Entre os 15 sobreviventes, estão nove tripulantes do superiate, indicando que todos os membros da tripulação foram resgatados, exceto o cozinheiro. Oito dessas pessoas foram levadas ao hospital.
Charlotte Golunski, uma britânica que estava a bordo com seu parceiro e filha bebê, foi uma das resgatadas. Em uma entrevista, Charlotte contou como conseguiu manter sua filha acima da água durante o caos. Charlotte é sócia da Invoke Capital, empresa de Lynch, e trabalhou anteriormente para a Autonomy.
Outra sobrevivente é Ayla Ronald, advogada da Nova Zelândia, que também fazia parte da equipe jurídica de Lynch durante o julgamento. Ayla enviou uma mensagem de texto ao pai, informando que ela e seu companheiro estavam vivos, mas sem fornecer mais detalhes.
Angela Bacares, esposa de Mike Lynch e mãe de Hannah, também está entre os resgatados. Na segunda-feira (19), Bacares foi vista usando uma cadeira de rodas devido a escoriações nos pés, conforme relatado pelo ‘La Repubblica’.
A operação de resgate continua, com autoridades locais trabalhando incansavelmente para localizar os desaparecidos e compreender as circunstâncias que levaram a este trágico acidente na costa siciliana.
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Fonte: O Globo
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