Foto: reprodução / VisualHunt rádios jabá

Quanto os artistas pagam pelo jabá nas rádios, de acordo com jornalista

Qual é o valor para emplacar uma música em todo o Brasil por meio de jabá nas rádios? O jornalista Leo Dias, do ‘Uol’, parece ter conseguido uma resposta bastante precisa a respeito deste “investimento”.

Inicialmente chamado de “jacabulê”, o jabá é um tipo de suborno pago para emissoras de rádios reproduzirem determinada música. Embora tenha sido criminalizada pela Câmara dos Deputados em 2006, a prática nunca deixou de ocorrer nos bastidores das estações brasileiras – que, mesmo na era das plataformas de streaming, seguem poderosas, especialmente em regiões do interior do país.

Um empresário do segmento, que preferiu não se identificar, disse a Leo Dias que o investimento para emplacar uma música em todas as rádios do Brasil, por meio de jabá, é de R$ 500 mil a R$ 700 mil. O jornalista apontou, ainda, que cada estação recebe de R$ 10 mil a R$ 20 mil por música – valor que se multiplica quando consideramos a quantidade de emissoras por todo o Brasil.

“Os sertanejos são os que mais gastam, até porque são os mais ricos. Os maiores nomes gastam entre 500 e 700 mil reais. Atualmente, Gusttavo Lima é o artista que mais investe em rádio no país, cerca de 700 mil por música”, afirmou o empresário ouvido por Leo Dias.

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Como agem as gravadoras

Ainda segundo apuração do jornalista, três das principais gravadoras do Brasil – Sony, Warner e Universal – deixam claro em seus contratos que elas arcam com os custos relacionados ao marketing, o que inclui o jabá. Porém, as empresas focam em São Paulo e no Rio de Janeiro. O artista, então, faz o pagamento no restante do Brasil.

De acordo com Dias, a única grande gravadora do Brasil que não aceita pagar jabá é a Som Livre. O motivo é claro: por ser parte do Grupo Globo, outros canais de comunicação do segmento, como a TV Globo e a Rádio Globo, são usados como parceiros. O artista pode investir em marketing de forma particular, sob custeio dele próprio.

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O jornalista revelou, também, que nem sempre o jabá é feito de forma tradicional, com pagamento em troca de reproduções na rádio. Há uma categoria atual em que os artistas oferecem shows com cachês mais baratos para eventos de rádios em troca de ter suas músicas tocadas na programação por um período que varia de 6 a 12 meses.

Artistas contra o jabá

O jabá ainda é eficiente não só em regiões do interior do Brasil, como, também, para o público mais velho ou de origem humilde, que não está acostumado com as plataformas de streaming. Porém, há artistas que batem de frente com a prática: caso de Jorge e Mateus, que, segundo Leo Dias, nunca pagou jabá e preferiu apostar em divulgação em turnês.

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Zezé di Camargo também afirmou, à reportagem, que nunca pagou jabá para ter suas músicas com Luciano tocadas nas rádios. Ele detalhou, ainda, como funciona a prática atualmente.

“Antigamente só as gravadoras pagavam os jabás. Hoje em dia, tudo mudou. É muito mais business. A gente sabe que tem artista que gasta entre R$ 1,7 e R$ 2 milhões em uma música para fazer dela o 1° lugar nas rádios e plataformas digitais. Eu acho desnecessário eu fazer isso hoje. Foram muitos anos de luta. Tenho 28 anos de carreira, fui um dos mais tocados no Brasil, sem jabá, e não acho justo eu que sempre estive ao lado do rádio ter que pagar para tocar num veículo que eu sempre prestigiei. […] Hoje, gravo algumas músicas maravilhosas mas que não emplacam porque não fazem ‘parte do esquema'”, afirmou o cantor.

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Igor Miranda é jornalista que escreve sobre música desde 2007 e com experiência na área cultural/musical.