Um escândalo que chocou a França e o mundo teve seu desfecho nesta quinta-feira (19). Dominique Pelicot foi condenado à pena máxima de 20 anos de prisão pela Justiça francesa por drogar sua então esposa, Gisèle Pelicot, de 72 anos, e permitir que ela fosse estuprada por mais de 70 homens ao longo de 10 anos.
Em 2020, Dominique foi preso por importunação sexual contra outras mulheres.
Durante as investigações, a polícia encontrou no computador do homem de 72 anos imagens e vídeos que mostravam a esposa dele, Gisèle Pelicot, sendo violentada por estranhos enquanto estava inconsciente em sua própria casa.
Foi apenas nesse momento que a vítima descobriu que havia sido alvo de abusos durante anos.
Segundo as autoridades, os estupros começaram em 2011. Ao todo, Gisèle foi estuprada pelo menos 92 vezes por 72 homens diferentes, mas apenas 50 réus foram formalmente acusados e condenados junto com Dominique. Os outros abusadores ainda não foram identificados ou localizados.
Nesta quinta-feira (19), a Justiça da França encerrou um dos casos mais chocantes de sua história recente, condenando Dominique Pelicot, de 72 anos, à pena máxima de 20 anos de prisão.
Além de Dominique, o tribunal declarou 46 réus culpados de estupro, dois de tentativa de estupro e outros dois de agressão sexual.
As sentenças variaram entre três e 15 anos de prisão, penas mais brandas do que as solicitadas pela promotoria, que havia pedido entre quatro e 18 anos para os envolvidos. Todos os condenados têm até 10 dias para recorrer das decisões.
Durante o julgamento, muitos acusados alegaram acreditar que participavam de uma fantasia sexual consensual organizada pelo casal. Alguns chegaram a argumentar que, como Dominique tinha aprovado os atos, “não se tratava de estupro”.
Veja o criminoso Dominique Pelicot e Gisèle, a vítima, que foi capa da revista ‘Time’ como Pessoa do Ano:
Durante o julgamento, Dominique confessou que usava tranquilizantes para dopar Gisèle, misturando os medicamentos em sua comida e bebida.
Em seguida, ele convidava homens por meio de sites de encontros para abusarem da vítima enquanto ela estava inconsciente.
Os abusadores eram instruídos a evitar perfumes ou tabaco para não deixar vestígios e a se despir na cozinha para evitar esquecimentos de roupas no quarto. Dominique participava dos estupros e também os filmava, mas não cobrava dinheiro pelos atos.
Apesar das orientações do acusado, alguns homens alegaram acreditar que participavam de uma fantasia sexual consensual do casal. No entanto, Dominique afirmou que todos sabiam que Gisèle estava inconsciente.
Em setembro, quando o julgamento começou, Gisèle abriu mão de seu direito ao anonimato e tornou o caso público. Ela explicou que sua decisão foi motivada pelo desejo de impedir que outras mulheres passem por situações semelhantes.
“Fui sacrificada no altar do vício. Não quero que outras vítimas sintam vergonha, mas sim que os agressores sintam”, disse Gisèle durante uma entrevista.
A postura corajosa da vítima fez com que ela se tornasse um símbolo de luta feminista, inspirando outras mulheres a denunciarem casos de violência. Ela foi eleita uma das mulheres mais influentes do mundo em 2025 pela ‘BBC’.
Veja uma imagem divulgada pela ‘CNN’ mostrando os estupradores de Gisèle Pelicot. São homens de 27 a mais de 70 anos de idade, com profissões diversas que vão de jornalistas, empresários, enfermeiros a aposentados:
O julgamento também revelou outros crimes chocantes. Caroline, filha de Dominique, descobriu durante as audiências que o pai mantinha fotos dela nua em seu computador. Ao encontrar as imagens, Caroline saiu da sala de julgamento em estado de choque.
Além disso, um amigo de Dominique, Jean-Pierre Marechal, confessou que usou o mesmo método para estuprar sua própria esposa, inspirado pelo acusado. Ele também se tornou réu no caso.
Na última audiência, Dominique pediu desculpas à família e reconheceu a gravidade de seus atos. “Todos aqui, apesar da presunção de inocência, são culpados, assim como eu”, declarou.
O caso de Gisèle Pelicot não apenas causou indignação na França, mas também gerou um debate global sobre violência contra mulheres e a importância de denunciar agressores.
A coragem de Gisèle ao enfrentar o sistema judiciário e expor o caso trouxe à tona a necessidade de mecanismos mais eficazes de proteção e justiça para vítimas de violência sexual.
As investigações continuam em busca dos abusadores ainda não identificados, enquanto a condenação de Dominique Pelicot e os outros réus marca um importante passo para a justiça.
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Fonte: G1
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