A lendária atriz Ilva Niño morreu aos 90 anos, nesta quarta-feira (12), no Rio de Janeiro (RJ). A artista estava internada desde o dia 13 de maio após uma cirurgia cardíaca e não resistiu após uma falência múltipla dos órgãos.
Natural de Floresta, Pernambuco, Ilva Niño descobriu sua paixão pela atuação ainda na escola. Desde então, ela dedicou sua vida ao teatro e à televisão. Além de atriz, Ilva também era professora de teatro, formando novas gerações de atores.
“O teatro é um meio de educação. Eu sempre pensei em passar adiante tudo o que eu sabia. Para transmitir, eu fiz mais cursos e terminei fazendo a faculdade de teatro”, contou Ilva ao Memória Globo.
Ao longo de seus 90 anos de vida, Ilva Niño participou de mais de 30 novelas, mas ganhou destaque nacional interpretando a empregada Mina em ‘Roque Santeiro’.
A personagem ficou conhecida pela forma como a patroa, Viúva Porcina, a chamava: “Miiiiina”.
“Uma pontinha de nada em Roque Santeiro e a Mina não morreu nunca, até hoje todo mundo grita pela Mina na rua. Foi um grande sucesso, merecidamente um grande sucesso”, relembrou Ilva.
Outro papel memorável foi o de Epifânia em ‘Cheias de Charme‘, atualmente em reprise na Globo.
“Eu acho que eu sou uma pessoa feliz, feliz porque eu escolhi uma profissão que dá alegria a todo mundo, dá alegria para mim e dá condição de trabalhar o social, de passar adiante o que eu sei, estar diante de experimentar”, declarou a atriz.
Formada em Teatro na Escola de Ariano Suassuna, Ilva se envolveu com o Movimento de Cultura Popular (MCP), onde trabalhou em engenhos de cana-de-açúcar no interior, promovendo a arte regional e outras atividades educativas.
“Era um trabalho social, político, íamos para o campo, com o teatro na frente. Depois vinha a alfabetização, a vacinação”, explicou Ilva.
Ela acrescentou que enfrentavam resistência dos donos de engenho e precisavam de autorização dos sindicatos para entrar nas propriedades.
A atriz iniciou sua carreira no início dos anos 1960, com peças como ‘O Auto da Compadecida’, ‘O Berço do Herói’ e ‘O Pagador de Promessas’. No cinema, participou de filmes como ‘Um Menino Muito Maluquinho’ e ‘Minha Mãe é uma Peça 2’.
Ilva Niño foi casada com Luiz Mendonça, com quem teve um filho, Luiz Carlos Niño. Ambos faleceram antes dela, Luiz Mendonça em 1995 e Luiz Carlos em 2005, vítima de cirrose.
Sobre a perda do filho, Ilva comentou: “Ele era muito talentoso, mas bebia, e morreu de cirrose. Eu tentei ajudá-lo, procurei médicos, mas ele dizia: ‘Mãe, vou sair dessa sozinho’. Ele achava que ia conseguir, mas não deu. Alcoolismo é uma doença muito séria”.
A atriz continuou ativa até os últimos anos de vida, com participações no humorístico ‘Os Roni’, do Multishow, entre 2019 e 2021.
Ilva Niño fugiu da ditadura para seguir carreira como atriz
Conhecida por seu trabalho na TV Globo, Ilva teve uma vida marcada pela dedicação à arte e por uma trajetória de luta durante a ditadura militar no Brasil.
A situação se complicou com o golpe militar de 1964. “Estávamos em uma cidade canavieira, chegamos ao Recife exatamente no dia do golpe. Ninguém esperava. Não podiam ficar três pessoas juntas que eles vinham com baioneta”, relatou.
Durante esse período, Ilva perdeu amigos e presenciou a violência da ditadura. “Tive amigo morto, diziam que era bala de festim, mas era de verdade“, contou.
Após o golpe, Ilva fugiu para o Rio de Janeiro com seu marido, o ator e diretor Luiz Mendonça.
“O pai do Luiz, que era coronel no interior e totalmente contra nós dois, pediu um favor ao cara que ocupava a Secretaria de Segurança, para podermos sair de Pernambuco. Levamos 18 dias até o Rio. Nem dinheiro para a comida direito a gente tinha, bebia água de bica. Perdi muito peso. Fomos morar na casa da minha irmã”, lembrou.
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