O cantor Milton Nascimento recebeu a reportagem do jornal ‘Folha de S. Paulo’, em sua casa, na cidade de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, para uma longa entrevista. Entre diversos assuntos, o artista criticou a forma com que se faz música, hoje em dia, no Brasil. Em tom de desabafo, Milton disse acreditar que os músicos populares do país só escrevem sobre assuntos fúteis.
“A música brasileira tá uma merda. As letras, então. Meu Deus do céu. Uma porcaria. Não sei se o pessoal ficou mais burro, se não tem vontade [de cantar] sobre amizade ou algo que seja. Só sabem falar de bebida e a namorada que traiu. Ou do namorado que traiu. Sempre traição”, afirmou o veterano.
O cantor e compositor citou rapidamente o momento político e lembrou que a música brasileira rendeu bons frutos durante a ditadura militar, mesmo sob o jugo da censura. “Não sei por quê [o cancioneiro nacional está ruim]. Mesmo com a ditadura [1964-1985], o pessoal não deixava de falar as coisas. Ou [os censores] não deixavam ou a gente escrevia [músicas] e eles entendiam errado. Mas ninguém deixou de escrever. Hoje, que está de novo quase uma ditadura, o povo não está sabendo escrever”, conta.
Milton Nascimento deixa claro, ainda, que está criticando especificamente alguns gêneros musicais mais populares – é possível inferir que ele esteja falando de letras do sertanejo e do funk, por exemplo. Ele lembra que ainda há uma geração de músicos talentosos e acredita que nem tudo está perdido, citando Maria Gadú, Tiago Iorc e Criolo.
‘Título fora do contexto’, diz Milton Nascimento
Mais tarde, com a repercussão da reportagem publicada pelo jornal paulistano, a equipe de Milton Nascimento publicou uma nota com uma explicação nas redes sociais. Foi afirmado que a reportagem destacou a fala do cantor “fora de contexto” e que ele “se refere exclusivamente à música feita no mainstream do mercado nacional, consumida pela massa”.
O texto finaliza mandando um “salve” para uma leva de artistas da atualidade cujo trabalho é elogiado por Milton e que têm “construído a melhor música desse novo tempo”, além de serem seus amigos pessoais.
Confira a nota na íntegra:
“Fora do contexto, o título de uma reportagem pode levar o leitor a conclusões equivocadas. A frase escolhida para a manchete da entrevista que Milton Nascimento deu à jornalista Monica Bergamo (foto acima) se refere exclusivamente à música feita no mainstream do mercado nacional, consumida pela massa. E só a ela. Justamente por isso, os únicos citados por ele como contra-exemplo foram Maria Gadú e Tiago Iorc, dois dos raros artistas talentosos que transitam nesse universo industrial. Bituca jamais se referiu à nova geração brasileira que, à parte do mainstream musical, tem construído a melhor música desse novo tempo. Milton tem muitos desses artistas por perto. São seus amigos. E conhece profundamente o que eles têm feito por nossa música. Um salve para Zé Ibarra, Tom Veloso, Amaro Freitas, Dani Black, Silva, Rubel, Tim Bernardes, Djonga, Emicida, Beraderos, Rincón Sapiência, Liniker, Marcia Castro, Luedji Luna, Cicero, Mallu Magalhães, Céu e a tantos outros queridos amigos que estão e vão estar sempre por aqui.”
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