A Fundação Nacional de Artes (Funarte) voltou a ser bastante comentada nesta quinta-feira (23) após o colunista Lauro Jardim, em seu blog no jornal ‘O Globo’, ter publicado a respeito de um novo edital da instituição. O documento explica as regras para a edição 2020 do Prêmio de Apoio a Bandas de Música.
O edital foi feito para distribuição gratuita de 790 instrumentos de sopro para 158 conjuntos musicais, com recurso de R$ 5,4 milhões. O foco é destinado a grupos como bandas municipais, sinfônicas, de concerto ou filarmônicas, além de orquestras de sopro e outras categorias.
Foi destacado, ainda, que não poderão participar do processo seletivo “bandas de música beneficiadas com recursos oriundos das emendas parlamentares e pelos órgãos estaduais de cultura nos anos de 2018 e 2019; tampouco fanfarras ou bandas marciais, bandas de pífanos, bandas de rock, big-bands, bem como conjuntos musicais assemelhados, conjuntos musicais de instituições religiosas, bandas militares e bandas de instituições de segurança pública”.
Em seu blog, Lauro Jardim apontou que a Funarte “proíbe a participação de bandas de rock” no concurso de bandas. O texto do jornalista aponta, ainda, que “nenhum outro ritmo foi vetado explicitamente” – embora as big bands de jazz tenham sido citadas – e que a situação não chamaria atenção se o presidente da Funarte não fosse Dante Mantovani, que disse, em um vídeo, que o rock está conectado ao aborto, uso de drogas e satanismo.
Apesar da declaração controversa de Dante Mantovani, que seguiu presidindo a Funarte mesmo após a polêmica, o edital não proíbe apenas bandas de rock. O texto da fundação não é bem escrito, mas deixa evidente que o foco está em bandas de gêneros mais ligados à construção de orquestras – até porque o uso de instrumentos de sopro em grupos de rock é bastante incomum, ainda que exista, especialmente, em nomes do rock progressivo.
Funarte explica por que não é bem assim
Após a situação gerar polêmica, a Funarte emitiu uma nota para explicar a situação. “A alegação da matéria de que ‘a proibição específica a bandas que tocam rock cai como uma luva para o presidente da Funarte, Dante Mantovani’ não corresponde à realidade. Primeiro, porque esse edital serve à distribuição de instrumentos apenas para bandas civis ‘tradicionais’, e não para outros tipos de bandas. Em segundo lugar, porque a Funarte realiza o Projeto Bandas (do qual faz parte essa ação) há 44 anos (por edital, desde 2007), com os mesmos critérios atuais”, diz, inicialmente.
A instituição completa: “A redação atual é quase igual nas três versões anteriores, 2007, 2010 (Procultura) e 2012, não sendo absolutamente uma novidade da gestão Dante Mantovani. A redação desse item sempre visou apenas a evitar confusão com outros tipos de bandas, não somente as de rock. Estas, como outros tipos de bandas diferentes das bandas civis ‘tradicionais’, nunca foram incluídas nesse prêmio, como se comprova no texto do edital de 2012”.
Por fim, a Funarte explica que considera “bandas de música” como uma “linguagem musical específica”. “As bandas tradicionais realizam, em milhares de municípios brasileiros, um trabalho de formação musical que qualifica artistas para orquestras. Por tudo isso, a Fundação mantém há anos a Coordenação de Bandas. Portanto, a Funarte nunca teve, não tem e nunca poderá ter preconceito contra nenhum estilo musical”, concluiu.
O edital pode ser lido, na íntegra, no site da Funarte.
Repercussão
Mesmo com o esclarecimento, a divulgação do edital gerou polêmica nas redes sociais. Veja, a seguir, algumas publicações sobre o assunto:
Lembram do Mantovani, cara que disse que "o rock leva ao aborto e ao satanismo" e que virou presidente da Funarte? https://t.co/nqCKxll4UT
— Mariliz Pereira Jorge (@marilizpj) January 23, 2020
Assim, não é por nada não, mas os editais desse concurso da Funarte já proíbem "Bandas de Rock" há um bom tempo… Eis, o texto do Edital do Prêmio de 2013, que contém exatamente a mesma proibição. Já adianto: não sei se o Presidente da Funarte em 2013 era apreciador de SKA. pic.twitter.com/yI9jtVLkbf
— Paulo Marzionna (@PauloMarzionna) January 23, 2020
"O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo."
Rock foi o único estilo musical excluído do edital.
Que retrocesso!!!https://t.co/oql5e4NbuH
— David Miranda (@davidmirandario) January 23, 2020
Rock não é mais música e nem faz parte da Funarte?! https://t.co/krudqazOLq
— 🌻 𝓛𝓾𝓱 🌻 🚩 (@luh_roma) January 23, 2020
Sr. Presidente @jairbolsonaro por favor trocar uma ideia com o pres. da Funarte, Sr. Dante. E explicar pra ele que não tem o pq de excluir o gênero musical "rock" do edital de incentivo a bandas…
Rock tbm é música…
Obrigado.— Thiago Trippeno (com dois p's) 😎 (@TTrippeno) January 23, 2020
A Funarte proibiu a gente de inscrever projetos de rock em editais. No Carnaval tá proibido ouvir rock. Escondam seus crucifixos.
Repassem
— Domenica Mendes (@domenica_mendes) January 23, 2020
Esse edital da Funarte me lembra da turnê do Roger Waters no Brasil colocando o #EleNão no telão durante o show.
O rockeiro conservador, que queria explicar pro cara que teve o pai morto por nazistas o que é fascismo, agora tem que engolir o rock censurado pelo Governo.
— Adrieli Nunes Schons (@Adrieli_S) January 23, 2020
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