Sucesso na década de 1970 com o grupo Novos Baianos, o compositor, cantor e instrumentista, Antonio Carlos Moreira Pires, o Moraes Moreira, dedicou-se à música até o fim. Seu último show aconteceu em 13 de março de 2020 – exatamente um mês antes de sua morte -, na cidade do Rio de Janeiro.
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Ao portal ‘G1’, o fotógrafo Evandro Teixeira, que era amigo de Moraes Moreira, relatou que a apresentação durou cerca de duas horas e terminou em meio aos pedidos de “bis” feitos pelo público.
De acordo com o fotógrafo, o cantor tinha avisado que daria uma pausa na agenda devido à pandemia da Covid-19 e pediu que o amigo fosse prestigiá-lo.
“É o último dia, vamos lá”, disse Moraes Moreira, segundo o relato de Evandro – como se pressentisse que aquela seria, de fato, sua última apresentação.
No dia seguinte, o músico entrou em quarentena como precaução ao novo coronavírus. A causa da morte não teve relação com a pandemia. Moraes Moreira teve, segundo informou a assessoria, um infarto agudo do miocárdio, em casa, no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro.
O velório e o enterro foram a portas fechadas para evitar aglomerações, seguindo as recomendações dos órgãos de saúde para a época de pandemia. Contudo, a obra do músico ganhou diversas homenagens, incluindo uma exposição virtual com ilustrações dedicadas a ele – veja aqui.
Moraes Moreira era multi-instrumentista
Nascido em Ituaçu, cidade a 470 km de Salvador, na Bahia, em 8 de julho de 1947, Moraes Moreira começou a desenvolver as habilidades para a música ainda na adolescência, quando começou a tocar sanfona – um presente que ganhou da irmã.
Depois, ele se apaixonou pelo violão, mas acabou entrando em um curso de percussão, já que não tinham mais vagas para as aulas de corda no Seminário de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador – para onde se mudou para estudar Medicina, mas acabou se deixando levar pela música.
Foi nesta época que ele conheceu Tom Zé, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, os futuros companheiros do grupo Novos Baianos. Depois, viria a acontecer o encontro entre Baby do Brasil e Pepeu Gomes.
Novos Baianos e carreira solo de Moraes Moreira
Morando juntos em um apartamento no Rio de Janeiro, os integrantes do grupo Novos Baianos lançaram o primeiro álbum, intitulado ‘É Ferro Na Boneca‘ (1970). Entretanto, foi o segundo trabalho, ‘Acabou Chorare‘ (1972), que os levou ao auge do sucesso.
Com o álbum com músicas como ‘Brasil Pandeiro‘, ‘Tinindo Trincando‘, ‘Preta Pretinha‘ e ‘A Menina Dança‘, os Novos Baianos entrou para a lista da ‘Rolling Stone’ sobre os 100 maiores discos da música brasileira.
Moraes Moreira deixou o grupo em 1975 para seguir carreira solo. A vida que eles levavam em uma comunidade hippie pesou na decisão.
De acordo com o livro ‘Novos Baianos: a história do grupo que mudou a MPB‘, escrito por Galvão, o cantor sugeriu que se mudassem em nome da permanência dele no grupo.
“Levei a proposta ao grupo e, em reunião democrática, ela não foi aceita. Alguns temiam que eles mesmos também viessem, no futuro, a fazer exigências semelhantes, o que acabaria com a comunidade”, conta Galvão.
“Falei para Moraes da recusa de sua proposta. Ele me chamou para sair do grupo com ele. Continuaríamos fazendo a parceria, ele cantaria as músicas e venceríamos, porque, no início, na pensão de Dona Maritó, éramos só nós dois”, continua.
“A proposta chegou a me balançar, mas o Novos Baianos falou mais alto. Agradeci o convite e desejei sorte ao parceiro: naquele momento, não tive dúvidas de sua determinação. Foi um baque para nós”, completa.
A carreira solo vingou e dela fizeram parte sucessos como ‘Sintonia’, ‘Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira‘ e ‘Pombo Correio‘, além de mais de 20 álbuns somente nesta fase. Com influências da literatura de cordel e do repente, ‘Ser Tão‘, lançado em 2018, tornou-se o último disco de Moraes Moreira.
Em sua última entrevista, Moraes Moreira relembrou a trajetória junto do grupo que – ele admite saber – marcou o Brasil. “E, em todo momento em que o Brasil tem dificuldade, os Novos Baianos aparecem para levantar a autoestima do povo brasileiro”, disse ele.
Moraes Moreira ainda acrescentou que o grupo não era da militância: “Você nunca ouviu os Novos Baianos dizerem: ‘abaixo a ditadura’. Novos Baianos diziam: ‘vou mostrando como eu sou e vou sendo como posso’. Entendeu? Novos Baianos diziam outra coisa, era outra linguagem, não era panfletária”.
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