Agenor Tupinambá – amazonense que ficou famoso por compartilhar seu dia a dia com uma capivara de estimação – precisará pagar mais de R$ 17 mil de multa ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Ele foi notificado nesta terça-feira (18).
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O jovem de 23 anos foi denunciado por suspeitas de abuso, maus-tratos e exploração de animais. Ele é fazendeiro e costumava postar fotos e vídeos com diferentes animais.
Além da multa, ele recebeu um ultimato e será obrigado a entregar a capivara e excluir todas as postagens relacionadas aos bichos em suas redes sociais.
O jovem vive em uma propriedade rural em Autazes (localizada a 112 km de Manaus, no Amazonas). Ele compartilhava momentos de seu cotidiano ao lado de “Filó”, a capivara, e outros animais sob seus cuidados.
Ibama se manifesta
Após intensa repercussão do caso, incluindo “campanhas” de internautas pedindo que o Ibama recuasse das sanções, o órgão decidiu se manifestar oficialmente para explicar melhor a situação.
“Animal silvestre não é pet. Por mais que algumas pessoas queiram cuidar de animais silvestres, quando os encontram na natureza, é necessário entender que eles não são animais domésticos, como cães e gatos. Capivara e bicho-preguiça são animais silvestres. Criar ou manter esses animais em casa é proibido pela legislação brasileira”, diz a nota.
O órgão informou que o caso chegou ao seu conhecimento após a morte de um bicho-preguiça na propriedade.
“É importante salientar que além de ser crime manter animais silvestres irregularmente, a exposição de espécimes silvestres como pets em redes sociais, estimula a procura por esses animais, aquecendo o tráfico de espécies da fauna brasileira”, informa o Ibama.
“Por mais que se acredite estar ajudando um animal silvestre, dando comida e abrigo, é importante entender que essa atitude pode prejudicá-lo, pois reduz sua capacidade de sobrevivência na natureza. Animais silvestres também podem transmitir doenças graves para os humanos”, continua o texto.
“Ao encontrar algum animal silvestre ferido, deve-se acionar o órgão público competente. A legislação brasileira não admite a hipótese de regularizar junto aos órgãos ambientais um animal adquirido ou mantido sem autorização. Quem possui animal silvestre em situação irregular pode realizar entrega voluntária ao órgão ambiental competente para evitar penalidades previstas na legislação”, finaliza a nota.
Em comunicado publicado no Instagram, Agenor expressou sua tristeza pela notificação recebida do Ibama. Ele também falou sobre o amor que sente pelos animais e a surpresa que teve ao receber a multa do órgão público.
“Eu cresci no meio do mato e lá nasceu a minha paixão pelos animais. Eu só saio de lá para estudar agronomia na capital, curso que escolhi para poder servi-los ainda mais. De todas as surpresas que a fama na internet me trouxe, eu jamais imaginei que seria acusado de abuso, maus-tratos e exploração contra animais. Também fui acusado de matar um animal do qual todos são testemunhas que só dediquei amor e fiz tudo que podia para preservar sua vida”, lamentou.
Agenor foi alertado a excluir todas as postagens em suas redes sociais envolvendo os animais sob sua responsabilidade e já cumpriu a ordem.
Capivara de estimação
Ele informou ao portal ‘G1’ que recebeu um prazo de seis dias para entregar “Filó” e a papagaia “Rosa”.
Foto: Reprodução/Instagram
“Também fui notificado para retirar os vídeos que tanto expressam o meu amor e entregar a Filó num centro de tratamento animal, sob a acusação de retirá-la do seu habitat natural. Se tem alguém que mora no habitat natural de alguém sou eu, não os animais. Eu abro a janela e lá esta o rio, a floresta e os animais. Eu que estou de passagem nesse lugar. E escolhi ser um guardião e não um criminoso“, disse ele.
Ele já removeu todas as publicações relacionadas aos animais em suas redes sociais e afirmou estar recebendo assessoria jurídica da Deputada Estadual Joana Darc. Agenor tem 20 dias para apresentar sua defesa.
“Lamento profundamente o que está acontecendo e só eu sei a dor que estou sentindo. Agradeço o apoio da minha família, amigos, seguidores, imprensa e ao suporte jurídico que nunca pensei que precisaria”, finalizou Agenor na nota.
Na fazenda onde vive, Agenor cuida de diversos animais não convencionais nas casas, como búfalos, um papagaio, um porco, um mergulhão selvagem, um biguá e um pato mergulhão. A capivara “Filó” entrou na vida do fazendeiro em 2022, de forma inesperada e “triste”, conforme ele relata.
Um primo de Agenor, que mora próximo a uma aldeia onde os indígenas costumam caçar para se alimentar, resgatou uma capivara prenhe. Foi assim que “Filó” passou a fazer parte da família de Agenor e seus pais.
“Eles cortaram a barriga dela, a ‘Filó’ nasceu e conseguiu sobreviver. Os índios deram ela para o meu primo e ele me deu”, contou Agenor em entrevista ao portal ‘G1’, sobre quando começou a cuidar da capivara em casa.
“Ela sempre dormiu comigo. Ela é muito apegada. Com meu cunhado, com meus irmãos. Com todo o carinho que ela recebe da gente, eu acho que ela retribui”, contou Agenor.
Agenor ama seu trabalho e compartilha sua vida e rotina na fazenda nas redes sociais desde 2019, com o objetivo de difundir a cultura ribeirinha.
“Sou pecuarista. Aqui trabalho com búfalos. Produzo leite de búfalo e queijo coalho. E aí, eu comecei a postar como é o dia a dia, como é a vida aqui no interior do Amazonas. Com esse pensamento, o pessoal não faz ideia de como é ser um ribeirinho, como é viver morar em um flutuante em cima do rio, ter toda essa cultura”, disse, sobre sua realidade na fazenda.
Com o tempo, ele conquistou cada vez mais seguidores e suas postagens passaram a alcançar um público maior.
No entanto, nenhuma das publicações de Agenor havia alcançado tanta visibilidade quanto àquelas que mostravam a capivara – o que não vai ser mais possível a partir de agora.
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