Uma história de superação e justiça marcou a vida de Jessica Martinelli, policial civil em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina. Vítima de abuso sexual na infância, ela conseguiu, anos depois, prender o próprio agressor e, recentemente, lançou um livro para compartilhar sua trajetória.
Aos 9 anos de idade, Jessica começou a sofrer abusos que se prolongaram por cerca de dois anos e meio. O agressor, um amigo da família, tinha 33 anos na época.
Apesar da dor, ela só conseguiu denunciar o crime aos 15 anos, enfrentando inúmeras dificuldades com as autoridades.
“Eu tive que repetir milhares de vezes a mesma coisa, sabe?”, relatou Jessica, ao lembrar das barreiras que encontrou ao buscar justiça.
Aos 25 anos, já como policial civil, ela finalmente viu o agressor ser preso, em 2016. Oito anos depois, aos 33, Jessica decidiu contar sua história no livro ‘A Calha‘, lançado no final de 2023.
A obra não só relata sua experiência, mas também busca ajudar outras vítimas a encontrarem forças para denunciar.
“Por ser uma história realmente que eu sei que motiva as vítimas a denunciarem, a contar. Além de trazer uma certa justiça, porque muitas vítimas, eu ouvi isso, que a minha ação, o meu ato, de certa forma, trouxe conforto para elas”, explicou.
No livro, Jessica detalha que o abuso ocorreu entre os 9 e 11 anos e meio de idade. Apesar da gravidade, ela não se sentia à vontade para contar à família.
“Mas eu tinha necessidade de desabafar. Então eu desabafava com amigas do colégio, ou uma vizinha minha”, revelou.
Foi uma dessas amigas quem a encorajou a buscar ajuda. “Eu contei para quem eu confiava, que é a minha irmã”, disse. Aos 15 anos, Jessica e a irmã foram à delegacia, mas enfrentaram resistência das autoridades.
A experiência a motivou a seguir carreira na polícia. “Eu olhava as fotos das mulheres policiais e eu via uma coisa que eu queria muito ter, que era a força. Essa força, essa coragem”, contou.

Foto: Gabriel Lain/Banco de dados/NSC Comunicação
Em 22 de dezembro de 2016, Jessica participou pessoalmente da prisão do agressor. “Quando nós estávamos indo, era como se eu tivesse voltado aos 11 anos de idade“, descreveu.
Ela relembrou o momento com emoção: “Os meus colegas o revistaram, mas fui eu que bati a porta da cela. E a sensação realmente de encerramento de um ciclo de 10 anos. Um ciclo muito doloroso, que nenhuma vítima deveria ter que passar“.
O agressor foi julgado com base em uma lei antiga, que tratava o crime como “contra os costumes” e já está em liberdade. Hoje, esses crimes são enquadrados como “contra a dignidade sexual”.
Jessica deixa um recado para quem passou por situações semelhantes: “Primeiramente, eu diria para elas: ‘Você não tem culpa. Não tem culpa nenhuma’“.
Ela também reforça a importância de denunciar qualquer abuso. “Aconselho também a denunciar. Eu acredito que a prisão do teu autor faz com que isso auxilie no ciclo da cura“, afirmou.
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Fonte: A Calha
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