O cantor Roberto Carlos não concede muitas entrevistas. Durante suas conversas com a imprensa, é ainda mais raro vê-lo falando sobre política. Porém, ele quebrou o protocolo ao fazer comentários sobre a atriz Regina Duarte, futura secretária de Cultura, e o atual presidente da República, Jair Bolsonaro.
As declarações foram feitas em coletiva de imprensa no ‘Projeto Emoções em Alto Mar 2020’. O cruzeiro do cantor teve viagem concluída na última quarta-feira (19), após passar 5 dias no mar.
Conforme transcrito pelo jornal ‘Folha de S. Paulo’, Roberto Carlos disse que Regina Duarte é “maravilhosa”. “Sou fã dela desde sempre, por tudo o que ela tem feito na carreira com talento e honestidade, acho que ela fará um bom papel. Dou total apoio a ela. Não aceitaria um cargo desse porque preciso compor e cantar”, afirmou.
Com relação a Bolsonaro, Roberto Carlos disse que as pessoas que trabalham no entorno dele representam “dificuldades” para o trabalho como presidente. Apesar disso, o cantor fez elogios ao chefe do Executivo federal e a dois de seus ministros, Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia).
“Bolsonaro é muito bem intencionado, mas que tem tido muitas dificuldade com quase todos que estão a volta dele. Sérgio Moro e Guedes, acho que estão sempre colaborando. Ele está tendo muita dificuldade em realizar o que propôs. Eu torço para o Brasil, então torço para que ele faça o que pretende fazer e que disse que ia fazer”, afirmou.
Ainda durante a conversa, Roberto Carlos comentou a declaração de Paulo Guedes, na última semana, em que falou sobre a alta do dólar. Na ocasião, o ministro da Economia disse: “Vamos importar menos, fazer substituição de importações, turismo. [Era] todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada. Espera aí, vai passear em Foz do Iguaçu, vai passear no Nordeste, está cheio de praia bonita, vai para Cachoeiro do Itapemirim conhecer onde Roberto Carlos nasceu. Vai passear, conhecer o Brasil”.
O cantor agradeceu pela menção a Cachoeiro do Itapemirim e disse que a dica é boa “até para a economia da cidade”. “É uma cidade linda, entre montanhas, tem um rio que atravessa a cidade toda. Tem algo especial lá. É uma cidade muito simples, mas muito atraente”, disse.
Roberto Carlos e política
Apesar de evitar fazer comentários sobre política nos dias de hoje, Roberto Carlos era visto como um dos apoiadores do regime militar, que comandou o Brasil entre 1964 e 1985. Junto de Wilson Simonal e Agnaldo Timóteo, o “Rei” é citado como “aliado da ditadura” em documento oficial do Centro de Informações do Exército (CIE), divulgado pelo Acervo Arquivo Nacional.
O documento diz que alguns veículos de imprensa supostamente publicavam reportagens que maculava a personalidade de artistas que se “uniram à revolução de 1964 no combate à subversão e outros que estiveram sempre dispostos a uma efetiva colaboração com o governo”. Informa-se, implicitamente, que esses nomes devem ser protegidos pelos militares.
Roberto Carlos era tão bem relacionado com as autoridades do governo na época que, em 1979, chegou a conseguir concessão pública para uma emissora de rádio. Na época, o presidente era o general Ernesto Geisel – o quarto mandatário desde o início do período autoritário no Brasil.
A relação positiva de Roberto Carlos com a ditadura não parou por aí: ele foi condecorado com a Medalha do Pacificador, teve cargos em conselhos do governo, conseguiu driblar a censura e ter feito shows nas Olimpíadas do Exército.
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