Aracati, uma pequena cidade litorânea do Ceará, é centro de uma polêmica que reflete um dilema moderno: o contraste entre celebração cultural e responsabilidade social. Enquanto se prepara para um Carnaval milionário, com estrelas como Ivete Sangalo e Gusttavo Lima, muitos de seus 75 mil habitantes questionam as prioridades da administração local.
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Afinal, o investimento milionário em festa contrasta fortemente com o sistema de saúde precário no município, levantando um debate acalorado sobre gestão pública e justiça social.
A Prefeitura de Aracati anunciou uma programação de Carnaval que promete ser completa. Ivete Sangalo, Gusttavo Lima e Xand Avião são apenas alguns dos nomes de peso que irão animar as ruas da cidade.
Além destes, pelo menos outras nove atrações estão programadas, garantindo um espetáculo gratuito para a população e visitantes. Entre eles estão o DJ Pedro Sampaio e Mari Fernandes, grandes nomes da música hoje.
Esta grande festa começa com um show empolgante de Gusttavo Lima. O orçamento total para estes eventos alcança a cifra de R$ 2,5 milhões, distribuídos entre dez contratos com os artistas.
Os cachês de algumas estrelas, como Xand Avião e Pedro Sampaio, já são conhecidos (R$ 550 mil cada um), Mari Fernandez foi contratada por R$ 450 mil; e Felipe Amorim cobrou R$ 300 mil.
Já os valores dos shows de Ivete e Gusttavo ainda são uma incógnita, mas certamente os valores são altíssimos.
Confira o anúncio da programação do Carnaval de Aracati (CE):
Confira alguns dos valores gastos com o Carnaval:
No entanto, em meio à expectativa pelo Carnaval, uma onda de descontentamento varre a cidade. Moradores, preocupados com a situação da saúde pública, levantam suas vozes em protesto.
A aposentada Ione Pereira de Oliveira, de 52 anos, gravou um vídeo apelando aos artistas: “Peço a vocês, de todo meu coração: não venham, não. Estamos tirando dinheiro da nossa saúde, dos pacientes, que dá para socorrer outras pessoas, para a gente poder fazer nosso tratamento”.
Seu desabafo é compartilhado por muitos que enfrentam dificuldades para receber tratamentos médicos essenciais, como hemodiálise, em outras cidades.
A situação de Ione não é isolada. Ela e outros pacientes lutam na Justiça para garantir o transporte até o município de Russas, onde realiza a hemodiálise.
O transporte, anteriormente providenciado por um carro adaptado, foi substituído por um micro-ônibus, sob a justificativa de cortes de gastos.
“Esse micro-ônibus é bom para quem tem saúde. Mas eu venho deitada e vomito toda vez“, relata Ione, descrevendo a dificuldade enfrentada em sua jornada para tratamento.
Martha Helena da Costa Torres, de 68 anos, também expressou sua frustração com a inadequação do veículo fornecido pela prefeitura: “Meu pé é amputado e minhas pernas doem muito por causa do carro“.
A situação desses pacientes culminou em uma ação legal, impetrada pela Defensoria Pública do Ceará. Em agosto de 2023, uma decisão liminar obrigou a prefeitura a fornecer um transporte adequado, e em dezembro, uma nova ordem judicial reforçando a necessidade de um veículo mais acessível.
Um vídeo recente expõe uma fila extensa na porta do Hospital Municipal Eduardo Duas, refletindo a luta diária dos cidadãos por medicamentos.
A voz de um morador, capturada nas imagens, ressalta a dicotomia entre o investimento nas festividades e a precariedade do serviço de saúde: “A saúde do pessoal de Aracati entregue às baratas“, lamentou outro morador, questionando a alocação de recursos da prefeitura.
Resposta da Prefeitura
Diante dessas críticas, a Prefeitura de Aracati defende sua gestão. Em uma nota oficial, afirma que os veículos para transporte de pacientes em hemodiálise não são apenas apropriados, mas também estão equipados com as mais recentes comodidades.
Segundo a prefeitura, esses novos veículos possuem ar-condicionado e cadeira elevatória, facilitando o acesso das pessoas com mobilidade reduzida.
Além disso, a presença constante de um técnico de enfermagem durante a trajetória é destacada como uma prova do compromisso da administração com o bem-estar dos pacientes.
Em Aracati, o Carnaval de 2024 se tornou um símbolo do embate entre a alegria efêmera das festas e as duras realidades enfrentadas pelos moradores. A comemoração repleta de estrelas contrasta com as vozes dos cidadãos clamando por melhorias na saúde pública.
Esse cenário de contrastes na cidade cearense reflete um dilema enfrentado por muitos municípios brasileiros: o equilíbrio entre a promoção cultural e a atenção às necessidades essenciais de sua gente.
Em Aracati, esse Carnaval não será apenas de festa, mas também de reflexão sobre as prioridades de uma comunidade.
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