Foto: Divulgação wilson simonal

Wilson Simonal: polêmica na ditadura levou o cantor ao declínio

O cantor e compositor Wilson Simonal marcou seu nome na história da música brasileira. Com um talento indiscutível, já chegou a ser considerado um dos maiores músicos da história de nosso país.

No entanto, seu enorme sucesso conquistado entre as décadas de 1960 e 1970 ficou comprometido após um delicado e polêmico episódio em que ele se envolveu durante a ditadura militar no Brasil.

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Não há a mínima dúvida de que Simonal foi um artista brilhante. Em um período histórico complicado, ele cavou seu próprio espaço em uma indústria que não abria oportunidades para pessoas negras.

Respeitado e admirado por seus contemporâneos, ele se destacou nesse cenário e suas músicas entraram para o imaginário popular brasileiro.

O músico foi pioneiro ao criar sua própria gravadora e, com isso, alcançou um nível de prestígio que viria a servir de referência para inúmeros artistas negros que vieram depois de seu tempo – incluindo na atualidade.

Em plenas décadas de 1960 e 1970, o “crioulo feio” (como ele próprio se denominava) conseguiu encantar o país apresentando três programas de televisão: ‘Spotlight‘, na TV Tupi e, posteriormente, ‘Show em Si… Monal‘ e ‘Vamos S’imbora‘, ambos na Record, a maior emissora do país na época.

Entre admiradores e colegas de profissão, Wilson Simonal costuma ser lembrado pelo talento, pelo carisma e pela risada fácil que ele costumava lançar bem no meio das canções. Entre seus principais sucessos, estão ‘Sá Marina‘, ‘Não Vem Que Não Tem‘ e ‘Meu Limão, Meu Limoeiro‘.

Porém, foi no auge da carreira, nos anos 1970, que o nome de Wilson Simonal chegou às manchetes dos jornais de forma negativa e ficou manchado de uma forma que ele jamais conseguiria recuperar novamente.

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Tudo começou quando o antigo contador de Simonal, demitido de sua empresa meses antes, acusou o cantor de sequestro.

O caso envolveu agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), órgão de censura da ditadura, e fez com que o artista fosse alcunhado como um “dedo-duro”. Desde então, a carreira de Simonal entrou em declínio, até sua morte, em 25 de junho de 2000, aos 62 anos, no ostracismo.

O pecado de Wilson Simonal

Wilson Simonal mantinha certa amizade com agentes do DOPS. Ele teria se utilizado desse relacionamento para “dar uma lição” em um antigo funcionário de sua gravadora, mas a coisa acabou saindo do controle.

Após ser demitido da Simonal Produções, o contador Raphael Viviani entrou com processo trabalhista contra o ex-patrão. Indignado, o cantor tentou acusar o ex-funcionário de roubo e teria pedido para que agentes do DOPS o fizessem confessar o crime.

A história teria sido conduzida nos mínimos detalhes. A princípio, Wilson Simonal foi ao DOPS prestar uma queixa. Ele alegou estar recebendo ameaças anônimas via telefone e suspeitava que fossem obra de Viviani.

Em um documento assinado por ele, o músico chega a se declarar como um “antigo colaborador do DOPS” e “divulgador do programa democrático do governo da República”.

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O cantor chega a oferecer seu carro e seu motorista emprestados ao DOPS para a realização das diligências e o agrado foi aceito. Dois policiais do DOPS “a serviço de Simonal” chegaram na casa de Viviani no dia seguinte, no Opala do cantor.

Eles teriam levado o contador para a sede do órgão e o torturado por várias horas. O homem negava que teria dado algum desfalque na gravadora, mas acabou cedendo após receber ameaças contra sua família.

Raphael Viviani aceitou assinar uma declaração em que confessava o roubo. Após mais de 20 horas sem notícias do marido, a esposa de Viviani foi à polícia, contou tudo que sabia e prestou queixa de sequestro.

Um exame de corpo de delito comprovou que o contador havia sofrido tortura e o caso acabou caindo na mídia. O escândalo foi inevitável.

Wilson Simonal chegou a ser condenado à prisão e passou 9 dias em uma penitenciária. Mais tarde, após receber um habeas corpus, apelou na Justiça e teve seu crime reclassificado. Por “constrangimento ilegal”, ele cumpriu pena de 6 meses em regime aberto.

Wilson Simonal se tornou uma figura mal vista pela sociedade e nunca mais emplacou nenhum sucesso nas paradas. O showman se tornou alcoólatra e chegou a se tornar persona non grata na TV Globo, que impediu sua participação em programas da emissora.

Com o passar dos anos, sua carreira foi caindo em total ostracismo e ele foi esquecido pela mídia e pelos brasileiros.

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Injustiçado?

Apesar do episódio polêmico e delicado, os últimos 20 anos vêm sendo marcado por tentativas de reviver a memória do cantor focando em sua música e seu talento.

Os esforços de seus filhos e de amigos levaram ao lançamento do filme ‘Simonal’, dirigido por Leonardo Domingues. O ator Fabrício Boliveira interpretou o papel principal no longa, que chegou aos cinemas brasileiros em 20 de agosto de 2019.

Costuma-se dizer que “contra fatos não há argumentos”, mas entre fãs, amigos e familiares de Wilson Simonal, há quem jure de pés juntos que a história foi corrompida pela imprensa e a carreira do artista foi assassinada de maneira injusta.

Esse é o caso, por exemplo, do documentárioSimonal – Ninguém Sabe O Duro Que Dei‘, dirigido e roteirizado por Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal e lançado em 2009.

Apesar de não negar o fato, a produção tenta mostrar outros lados da situação e apontar que o caso acabou sendo distorcido pelos jornalistas da época.

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*O texto não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cifras.

Sou jornalista, mas nas horas vagas gosto de fingir que sou influenciador digital. Me segue no insta! @meunomenaoedolfo

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