Foto: Reprodução/Lollapalooza Lollapalooza

Festival Lollapalooza é flagrado usando mão de obra escrava em São Paulo

O Festival Lollapalooza deverá ser responsabilizado após ser flagrado utilizando a inacreditável mão de obra de trabalhadores escravizados em montagem do festival na cidade de São Paulo.

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A data de início do Lollapalooza 2023 é esta sexta-feira, 24 de março, e o festival segue com muitas atrações, como Billie Eilish, Drake, Lil Nas X e Pitty, durante todo o fim de semana no Autódromo de Interlagos, na capital paulista.

Contudo, na última terça-feira (21), a Superintendência Regional do Trabalho no Estado de São Paulo realizou uma operação de resgate de trabalhadores em situação análoga à escravidão, que estavam trabalhando na preparação do evento.

De acordo com uma reportagem exclusiva da revista ‘Carta Capital’, cinco profissionais que trabalhavam como carregadores de bebidas em jornadas de 12 horas por dia foram resgatados no local.

“Depois de levar engradados e caixas pra lá e pra cá, a gente ainda era obrigado pela chefia a ficar na tenda de depósito, dormindo em cima de papelão e dos paletes, para vigiar a carga”, disse um dos resgatados à ‘Carta Capital’.

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Os trabalhadores não tinham as mínimas condições de dignidade durante sua atuação na montagem do renomado festival Lollapalooza – nem ao menos os registros trabalhistas que são exigidos por lei.

O órgão que realizou a operação de resgate é ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego do Governo Federal.

“Com idade entre 22 e 29 anos, eles não tinham dignidade alguma, dormiam dentro de uma tenda de lona aberta e se acomodavam no chão. Não recebiam papel higiênico, colchão, equipamento de proteção, nada”, declarou Rafael Brisque Neiva, auditor fiscal que participou da operação de resgate.

Os trabalhadores resgatados relataram em entrevista que eram ameaçados com a perda do emprego caso tentassem deixar o local após o expediente. Os chefes cobravam que eles vigiassem a carga nas tendas até o dia seguinte.

“Um dos chefes falou: ‘se você for pra casa, nem volta‘. Um outro disse: ‘quem precisa [de dinheiro], fica [a noite toda no autódromo]”, afirmou um deles em entrevista.

Eu, com aluguel atrasado, desempregado, cheio de conta pra pagar e uma filha de 9 meses em casa, vou fazer o quê? Viver uma situação como essa em um festival desse tamanho é triste”, declarou o rapaz.

Ele ainda disse mais: “Ninguém sai de casa para ser humilhado por ninguém, para ficar longe da família, mas a necessidade fala alto“. 

Esses cinco trabalhadores resgatados prestavam serviço para a ‘Yellow Stripe’, empresa terceirizada contratada pela ‘Time 4 Fun’ (conhecida como T4F), que é a dona do Lollapalooza no Brasil.

A T4F, divulgou uma nota a respeito dos cinco profissionais resgatados em situação de trabalhado análogo à escravidão no festival.

“A T4F, responsável pela organização do Lollapalooza Brasil, tem como prioridade que todas pessoas envolvidas no evento tenham as devidas condições de trabalho garantidas e, portanto, exige que todas as empresas prestadoras de serviço façam o mesmo”, diz a nota.

“Diante desta constatação, a T4F encerrou imediatamente a relação jurídica estabelecida com a Yellow Stripe e se certificou que todos os direitos dos 5 trabalhadores envolvidos fossem garantidos de acordo com as diretrizes dos auditores do Ministério do Trabalho. A T4F considera este um fato isolado, o repudia veementemente e seguirá com uma postura forte diante de qualquer descumprimento de regras pelas empresas terceirizadas”, acrescentou a empresa.

Contudo, o inspetor do trabalho Rafael Augusto Vido da Silva acredita que a T4F foi omissa nessa séria situação. “Nós não temos nenhuma dúvida de que a T4F foi omissa e faltou com a devida diligência no seu dever legal de fiscalizar o cumprimento da legislação trabalhista por parte da contratada”. 

Essa não é a primeira vez que o Lollapalooza – um dos maiores festivais do mundo – viola a dignidade dos trabalhadores.

Em 2019, pessoas em situação de rua foram contratadas por R$ 50 para cumprir diárias de 12 horas para montar os palcos, conforme noticiou o jornal ‘Folha de S.Paulo’.

“A situação que a gente presenciou é emblemática para entender as raízes do problema do trabalho análogo ao de escravo no país. O grande abismo socioeconômico brasileiro provoca esse contraste e deixa algumas pessoas vulneráveis ao trabalho escravo, enquanto outros podem pagar mais de R$ 1.000 em ingressos para um show”, disse Livia Ferreira dos Santos, uma das auditoras fiscais que participou do resgate.

Montagem - Lollapalooza

Foto: Reprodução/Ministério do Trabalho e Emprego

Leia o comunicado do Lollapalooza, na íntegra:

“Para realizar um evento do tamanho do Lollapalooza Brasil, que ocupa 600 mil metros quadrados no Autódromo de Interlagos e tem a estimativa de receber um público de 100 mil pessoas por dia, o evento conta com equipes que atuam em diferentes frentes de trabalho, em departamentos que variam da comunicação a operação de alimentos e bebidas, da montagem dos palcos a limpeza do espaço e a segurança. São mais de 9 mil pessoas que trabalham diretamente no local do evento e são contratadas mais de 170 empresas prestadoras de serviços.

A T4F, responsável pela organização do Lollapalooza Brasil, tem como prioridade que todas pessoas envolvidas no evento tenham as devidas condições de trabalho garantidas e, portanto, exige que todas as empresas prestadoras de serviço façam o mesmo.

Nesta semana, durante uma fiscalização do Ministério do Trabalho no Autódromo de Interlagos, foram identificados 5 profissionais da Yellow Stripe (empresa terceirizada responsável pela operação dos bares do Lollapalooza Brasil), que, na visão dos auditores, se enquadrariam em trabalho análogo à escravidão. Os mesmos trabalharam durante 5 dias dentro do Autódromo de Interlagos e, segundo apurado pelos auditores, dormiram no local de trabalho, algo que é terminantemente proibido pela T4F.

Diante desta constatação, a T4F encerrou imediatamente a relação jurídica estabelecida com a Yellow Stripe e se certificou que todos os direitos dos 5 trabalhadores envolvidos fossem garantidos de acordo com as diretrizes dos auditores do Ministério do Trabalho. A T4F considera este um fato isolado, o repudia veementemente e seguirá com uma postura forte diante de qualquer descumprimento de regras pelas empresas terceirizadas”.

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