Fotos: Divulgação Elis Regina - filha Maria Rita

Maria Rita não se lembra de Elis Regina e sentiu raiva ao descobrir causa da morte

Grande voz da música brasileira, Elis Regina Carvalho Costa, ou simplesmente Elis Regina, morreu em 19 de janeiro de 1982, mas deixou um legado que a faz ser considerada por muitos críticos a melhor cantora popular do Brasil.

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Nascida em Porto Alegre (RS), Elis Regina tinha 36 anos e estava no auge da carreira, que passou pela MPB, bossa nova, samba, rock e jazz, quando faleceu, vítima da overdose de cocaína.

A morte foi cercada de polêmica devido ao fato de a relação de Elis Regina com as drogas ser, até então, desconhecida do grande público.

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Os últimos momentos de Elis Regina

Foto: Divulgação

No livro ‘Furacão Elis‘, a jornalista e escritora Regina Echeverria detalha os últimos momentos da artista. A cantora estava ao telefone com o namorado, Samuel MacDowell, quando começou a sofrer a overdose que tiraria a vida dela.

“Samuel notou que a voz dela passou a soar meio pastosa. As palavras saíam aos arrancos, incompletas. E, de repente, silêncio. ‘Alô, alô’, ele gritava. Nada. Nem um som. Aflito, ele desligou e discou para a casa dela. Ocupado. Ligou de novo. Ocupado. De novo. Sempre ocupado”, conta a publicação.

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Sem resposta e preocupado, Samuel rumou ao apartamento de Elis. Ele arrombou duas portas com a ajuda de João Marcelo Bôscoli, filho de Elis, que tinha 11 anos na época.

“Quando enfim a porta cedeu, Samuel e João Marcelo viram Elis caída no chão, entre a cama e a estante. Do lado, fora do gancho, o telefone. Samuel afastou João Marcelo, entrou, fechou a porta, abaixou-se e sacudiu Elis. Ela não se mexia. Nenhum sinal de vida”, conta o livro.

Samuel pediu uma ambulância ao Hospital das Clínicas e ligou para o sócio pedindo ajuda médica. O socorro, no entanto, demorou a chegar.

Elis Regina já estava com os pés roxos. “O corpo estava quente, mas os pés e as mãos, frios”, relembrou a secretária Celina Silva, que chegou em meio à correria para tentar salvar a cantora.

Sem sinal da ambulância, Samuel decidiu socorrê-la por si mesmo. “No Hospital das Clínicas, levei os documentos da Elis para fazer a ficha enquanto uns cinco, dez médicos pulavam em cima dela, batendo”, narrou Celina.

“Foi tudo muito rápido. Deve ter demorado quinze, vinte minutos. O médico chegou para nós e disse: ‘ela não aguentou'”, completou ela. Ao meio-dia de 19 de janeiro de 1982, Elis Regina foi declarada morta pelos médicos.

Veja a reportagem da época sobre a morte de Elis Regina:

Laudo polêmico

Dois dias depois, o laudo médico do IML (Instituto Médico Legal) foi divulgado e todo o Brasil soube o que havia calado a voz da Pimentinha: Elis tinha morrido devido a uma intoxicação por bebida alcoólica e cocaína.

Era 1982, época de uma sociedade amplamente conservadora, pareceu inacreditável que uma cantora sem histórico de abuso de drogas tivesse tal fim.

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Familiares e amigos chegaram a contestar a versão apresentada no laudo, que, para aumentar a polêmica, havia sido assinado por Harry Shibata – o mesmo que, anos antes, assinou o laudo que apontou que o jornalista Vladimir Herzog cometeu suicídio, quando, na verdade, foi morto por militares durante a ditadura.

Vítima de ‘fatalidade’ e sem polêmica

Foto: Divulgação

Biógrafo da cantora no livro ‘Elis Regina – Nada Será Como Antes‘, o escritor Julio Maria minimizou a polêmica sobre a morte, que chegou a ser considerada suspeita.

“Mitos são as versões de que ela teria sido assassinada ou de que teria cometido suicídio”, afirmou ao jornal ‘Zero Hora’.

“O fato foi que ela consumiu uma quantidade de cocaína com Cinzano [um tipo de vermute]. A bebida potencializou o efeito da droga, ela teve uma parada cardíaca e morreu. Não existe polêmica”.

A relação da cantora com a droga era “muito particular” e só conhecida pelos mais íntimos, conforme conta o livro ‘Furacão Elis‘. De acordo com a obra, publicada pela primeira vez em 1985 (apenas 3 anos depois da morte da cantora), Elis não chegava a usar drogas na frente de Samuel ou dos amigos mais próximos.

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Apesar disso, muitos íntimos sabiam da situação. Amigo próximo de Elis, o produtor musical Nelson Motta garantiu, em conversa com a revista ‘Quem’, que a cantora “bebia um pouco, fumou uns baseados no começo dos anos 1970”, mas tudo “besteirinha”.

“O laudo diz ‘mistura de álcool e cocaína’. Se mistura de álcool e cocaína matasse, 80% dos artistas da MPB estariam mortos. Por isso digo que foi acidente. Alguma coisa, que só Deus sabe, deu errado ali”, declarou.

Maria Rita não sabia causa verdadeira

Foto: Reprodução/Instagram

Em 2016, Maria Rita, a filha caçula de Elis Regina (recentemente metida em uma polêmica envolvendo a mãe, um comercial e inteligência artificial), concedeu entrevista ao programa ‘TV Mulher’, exibido pelo canal Viva, e disse sobre o quanto se sentiu enganada ao saber da verdadeira causa da morte da mãe.

Hoje cantora como a mãe, Maria Rita relata que tinha 12 anos quando descobriu que a mãe não havia morrido de um ataque cardíaco, como tinha ouvido até então.

Na época, ela relembra, o sentimento foi de raiva de Elis.

“A história era que ela tinha um problema no coração. Quando li o que era, foi complicado. Eu me senti enganada a vida toda. Fiquei com raiva na hora. Raiva de tudo. Da mentira, dela, da noção que ela usava droga. Comecei a jogar minhas coisas no meu quarto”.

“O início foi cruel, mas eu me alimentei disso para o meu fortalecimento. Não dá pra julgá-la, eu já a perdoei há muito tempo”, concluiu.

“Eu não tenho lembrança nenhuma da minha mãe. Nada, nada, nada. Tenho lembrança da casa em Cantareira. Essa eu tenho riqueza de detalhes. Depois o apartamento que fomos morar, onde ela veio falecer, eu tenho riqueza de detalhes também. Mas dela… Não lembro do cheiro, não lembro da voz”, revelou Maria Rita em uma outra entrevista.

O ponto de vista do irmão de Maria Rita

No livro ‘Elis e Eu‘, João Marcelo Bôscoli relata a relação com a mãe e conta como descobriu que ela usava drogas ao ouvir a movimentação no banheiro ao lado do quarto dele.

“Apesar dos meus 11 anos, não houve esforço para deduzir as ações no banheiro. Inalações rápidas deixavam tudo claro. E a cultura popular da época também já tinha introduzido o assunto, tanto nos filmes vistos escondido como nas letras de músicas”, relata ele.

Ele completou: “A novidade foi perceber pela primeira vez sua chegada à nossa casa — e com a participação dela. (…) Por alguns longos segundos, pensei em sair do quarto e constranger a todos. Três metros nos separavam. Se eu tivesse ido até lá, o destino teria sido outro? Talvez eu tivesse tomado uma bronca… Como saber? Como?”.

Por fim, concluiu: “Era tudo demais para mim. Tomar coragem e confrontar aquela supermulher exausta, olhar nos olhos dos parasitas ao seu redor, vê-la afundar em algo até então completamente ausente em nossa vida, testemunhar uma fraqueza sua. Ou fazê-­la sofrer ao me ver confuso, surpreso e chocado”.

Veja a última entrevista com Elis Regina:

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Sou jornalista, mas nas horas vagas gosto de fingir que sou influenciador digital. Me segue no insta! @meunomenaoedolfo

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